terça-feira, 22 de junho de 2010

A mess of me.

Um dia desses eu entrei em um carro muito sujo (não vou revelar de quem era o carro para evitar constrangimentos). Ele estava tão sujo, por dentro e por fora, que era quase insuportável permanecer por muito tempo nele. Resultado de um mês de descuidados, refrigerantes do McDonalds derramados no tapete de madrugada, lixo, praia e tantas outra coisas acumuladas no dia-a-dia.

Minha cabeça então voou para outro lugar.


E esse lugar era quase tão insuportável de ficar quanto o carro. Nesse lugar também havia muitas coisas acumuladas, deixadas para trás ou superficialmente escondidas numa fraca tentativa de ignorar.

Então senti o peso de tudo aquilo que eu segurava fingindo ter esquecido. Eu não podia mais jogar a sujeira para baixo do tapete. Não conseguia mais me enganar.

E sentada ali no banco do carro me vi com olhos vidrados pensando em coisas que por três meses havia sufocado com constantes distrações. Estava presa dentro de um tornado; tudo passando na minha frente rápido demais. De repente me senti nauseada. Olhava ao redor e só via aquela nuvem preta de poeria e troços me envolvendo sem cessar. E não ia parar.

Eu já não conseguia respirar. Alguém me olhando de fora pensaria que eu era uma maluca, sentada no banco do carro parecendo estar em outro mundo. E eu estava mesmo, um mundo que um dia já me foi tão familiar mas que recentemente eu evitava feito a morte.

Eu não sabia o que fazer, me era tão mais confortável jogar tudo pro canto e fingir que nunca existiu. Só que até as menores coisas se acumulam e acabam nos sufocando quando falta espaço para guardar. Há muito tempo eu sabia que esse espaço estava acabando, mas assim como o carro, eu deixei sempre pra lidar com a “sujeira” depois. (Tá, o carro sujo era meu. :P)

E então eu respirei fundo e fui pegando cada pedaço ignorado, cada pedaço rejeitado, cada pedaço pisoeteado e amassado, e desenrolei, emendei, alisei. Fiz tudo o que pude para ver exatamente o que era e tomar a decisão certa sobre o seu fim.

Algumas coisas eu joguei no lixo sem nem olhar para trás. Outras eu guardei, por mais que me ferissem com suas pontas afiadas; sabia o valor inestimável que tinha. Outras eu precisei mandar desinfetar. Houve aquelas que se desintegraram ao meu toque, frágeis demais para suportar a falta de atenção.

Depois de um tempo que pareceu infinito, o tornado cessou. Eu já não estava tão zonza e até dava pra respirar normalmente. Convenhamos, o cheiro não estava como o de flores, e ainda tinha algumas coisas espalhadas por aí, mas no geral, estava muito melhor.

Eu sabia que havia certas manchas que nao sairiam do carpete, e certas marcas na parede que se fundiram com a decoração. Sabia ainda que havia muitos tapetes que escondiam coisas por baixo e que a sujeira nunca ia parar de tentar se acumular.

O essencial era estar em constante renovação. Saber que cada dia irá trazer seu mal, mas ter a certeza de que poderei respirar fundo e jogar fora o que for preciso.
O resto me será acrescentado.



(Ps: o carro tá limpo também. ☺)
















I am my own affliction,
I am my own disease.
There ain't no drug that they could sell,
Ah, there ain't no drugs to make me well.

It's not enough,
The sickness is myself.

I made a mess of me, I wanna get back the rest of me.
I've made a mess of me, I wanna spend the rest of my life alive.

We lock our souls in cages,
We hide inside our shells.
It's hard to feed to the ones you love,
Oh, when you can't forgive yourself.

9 comentários:

Unknown disse...

Finalmente você resolveu limpar "esse carro". :) Mas a hora vem que "esse carro" precisará ser trocado totalmente por outro que não haverá manchas no carpete que não saem nem meus cheiors que trazem algumas lembrancas.
Um grande homem disse que não adianta você colocar vinho novo em odre velho. Odre velho só agüenta vinho velho! ;) Maikinho.

Héber Lima disse...

Switchfoot for the win.

http://falaidedeus.blogspot.com/2009/01/identidade.html

Never forget ;p

... disse...

nandoca! saudades... vixe ue milagre.... esses dois aki?! kkkk nao consigo um deles pra comentar no meu =/ se bem qeu nao escrevo a seculos... e troquei de endereco...

concordo com michael. saudades grandes... quero sentar um dia so pra te ouvir uando eu chegar. =) te amo muito =) e tb falar do que tem acontecido comigo aki.

Quel Soares disse...

ja nao é mais a mesma!!
mas ainda é agradavel :D
lindaaaa!!

Unknown disse...

Nanda, se todas as pessoas tivessem a capacidade de perceber a sujeira que há em si e, além disso, tivessem a atitude de limpar-se, tudo seria mais transparente nesse mundo. As pessoas seriam honestas, sinceras e buscariam o melhor para todos, a individualida não seria tão importante como atualmente.
Se você consegue perceber que tem algo sujo na sua vida e, não somente no seu carro, é porque a sua essencial é pura!
Eu te amoo.

Camila Costa disse...

Se renovar é essencial, mudar é impossivel, apagar o passado, inútil perda de tempo...O que já foi escrito fica num livrinho chamado " coisas importantes que não consigo esquecer, nem quero" , tudo isso é importante pra melhorarmos e amadurecermos, com as cicatrizes mesmo.

Vou adicionar o blog na lista denovo, depois que mudei o layout tinha perdido o endereço :D
Beeijo.

Kid disse...

Contanto que não cheire mau, é legal um carro sujo, empoeirado ou com aquele aspecto de maresia por um tempo, e que no final, por algum outro motivo, vc fica responsável de limpa-lo, devendo sempre lembrar de deixar aquela mangueira disperdiçando água aproveitando pra fazer com a esponja e sabão, uma bola de espuma branca (em excesso) que dar até pra fazer a barba de papai noel ou um ursinho de pelucia, conforme a criatividade... depois de limpar o carro e a si mesma, vc sentirá com o pleno direito de sujar o carro todo outra vez. É bom sujar o carro, principalmente quando se é de propósito. Limpar o carro brincando de ser papai noel não é tão divertido quanto sujar. Suje o seu carro outra vez, evite andar em asfalto e corra somente o risco de furar o pneu. Se por algum motivo vc tiver que andar no asfalto, certifique-se de no caminho pegar o maximo de panfletos possiveis e quando for dar carona a alguém, lembrar de coloca-los espalhados no banco dessa pessoa, só pra ver a reação da vítima. 11° mandamento: vai por mim. ;)

Unknown disse...

"jogar poeira pra debaixo do tapete" realmente nunca resolve, né? Uma hora ou outra tem que fazer a limpeza.. Mas só o tempo faz a gente saber quando é a hora de fazer essa limpeza! :)
Muito bom saber que você fez a sua!
Beijo Nanda! Se cuida.

Unknown disse...

SEBOSAAAA, ainda tá Sujo!!!!! Mas não apenas o carro que eu sei :D