quarta-feira, 8 de junho de 2011

Bad taste in my mouth.

E mais uma vez me reconheço na folha branca do papel. O espelho que emite o meu reflexo não consegue captar aquilo que até de mim escondo.
Somente aqui eu me desvendo.
Nesse vácuo de palavras, vou digitando os pensamentos.
L e t r a p o r l e t r a.
Tentando compreender aquilo que não falei, que evitei pensar.
Arrancando com as mãos feridas toda a ansiedade pelo que não se expressou.
E cada palavra vai cavando mais profundo.


“Writing is a socially acceptable form of schizophrenia.”
-E. L. Doctorow



Nunca gostei de falar sobre o que sinto.
Confesso que a fala, se não previamente estudada, não é o meu forte.
Até porque o caminho percorrido entre pensamento e boca, em mim, é mínimo. Resultando em palavras ditas, muitas vezes sem repensar.
Palavras certas em momenos importunos, ou palavras erradas em situações precisas.

Não a use com desleixo.
Pois na fala não se pode errar. A frase, uma vez dita, permanece dita para sempre. Não há como voltar no tempo e não proferir o que já foi lançado ao mundo.
Palavras essas que ferem, que geram expectativas, que tiram a esperança, que acariciam, que criam e que destróem.
Frases que em um minuto podem fazer ou acabar o seu mundo.

Confesso que a palavra dita me deixa maravilhosamente assutada. Pelo poder que possui e pela ousadia de ser aquilo que ela é, sem medo.

Enquanto isso eu me deleito com a escrita, onde há espaços para os erros, em que se pode apagar e se fazer novamente.
Contento-me em tentar mil vezes até achar o adjetivo perfeito, a saborear cada frase trabalhada em que se gastaram horas a pensar antes de ser despejada no universo.

Para uma pessoa que muitas vezes não presta atenção em tudo, as palavras são meu ponto fraco; ou diria forte.
Entrego-me com prazer, sentindo o aroma, a textura e o sabor, mastigando cada letrinha, ainda que azeda.
Me transformo no que de mim se expele pelos dedos.
Sou vacilante, sou o remendo.
Lançada ao mundo.

1 comentários:

Lula Ramone disse...

O mais dificíl é o primeiro passo, não importa a direção em que é dado.

Fico feliz que tenha recobrado o gosto, amargo ou não.

=)